Uma nova abordagem clínica propõe libertar o sujeito da repetição simbólica do sofrimento e restaurar sua autonomia psíquica por meio da lucidez crítica.
Num cenário onde boa parte das abordagens psicoterapêuticas ainda gira em torno da repetição do trauma, do reforço da identidade ferida ou da busca por causas passadas, uma nova proposta clínica começa a ganhar destaque no Brasil: um método que não busca “curar” o trauma, mas colapsar sua função simbólica. A proposta parte de uma pergunta radical: e se a dor que sentimos não for mais causada por algo real, mas por uma forma simbólica automatizada que seguimos obedecendo sem perceber?
Desenvolvido por Wagner Teixeira da Silva (42 anos), escritor e psicanalista clínico, especialista em Comportamento Humano, Neurociência, Psicanálise Infantil e Psicologia Organizacional, o método se chama Ontocentria. Sua originalidade está em romper com o pressuposto de que o sofrimento precisa ser interpretado ou ressignificado, propondo, em vez disso, que ele pode ser desfeito quando deixa de ser sustentado como verdade simbólica.
Diferentemente das terapias convencionais, a Ontocentria afirma que o sofrimento psíquico não é mantido por eventos, mas por crenças inconscientes que se organizaram em torno de figuras e imagens simbólicas, como “o pai que nunca aprovou”, “a mãe que abandonou”, “a sociedade que exclui”. Com o tempo, essas figuras deixam de ser lembranças e passam a funcionar como centros de gravidade subjetiva: o sujeito organiza sua vida inteira para responder a elas — tentando provar algo, compensar ou se proteger.
O que torna essa estrutura ainda mais resistente é o fato de que o trauma não é apenas sustentado por lembranças, mas por uma percepção dual e contraditória. O sujeito vive simultaneamente em duas posições simbólicas: como aquele que foi ferido injustamente, e como aquele que precisa superar essa ferida para provar valor. A dor e a luta contra a dor tornam-se um sistema fechado: o trauma não se dissolve porque sua permanência alimenta tanto a identidade de vítima quanto a busca de superação como ideal compensatório.
“O trauma se repete não só porque dói, mas porque organiza a identidade. O sujeito se acostuma a existir a partir da tensão entre a ferida e a tentativa de transcendê-la. Essa duplicidade simbólica aprisiona, porque qualquer tentativa de ‘cura’ ainda opera sob a lógica da dor como centro” — afirma Wagner Teixeira da Silva, idealizador do método.
A Ontocentria propõe, portanto, romper com essa dualidade. O sofrimento, nesse modelo, não é resolvido por enfrentamento ou redenção, mas por retirada simbólica de investimento. Em vez de girar em torno da dor — negando ou afirmando sua presença — o sujeito é convidado a vê-la como forma que pode ser abandonada. A cura não é reconciliação com o trauma, mas cessação da crença de que ele ainda define quem se é.
O método propõe um conjunto de operações clínicas que inclui a identificação das crenças associadas, a desconstrução das formas falsas e, principalmente, o que chama de reposicionamento da vontade: o momento em que o sujeito percebe que não precisa mais repetir aquilo que aprendeu na dor. A cura, nesse modelo, não é uma elaboração do passado, mas um colapso da necessidade de sustentá-lo como critério de realidade.
Na fase final do processo clínico, chamada de despertamento, o sujeito é conduzido a experimentar a Centropia — não como essência espiritual ou ponto de equilíbrio emocional, mas como um estado de lucidez ativa, onde não há mais oscilação entre polos simbólicos (culpa e redenção, dor e superação), e onde a vontade se expressa sem ser sequestrada pela repetição afetiva.
“A Centropia é o espaço psíquico onde o sujeito já não precisa mais provar sua dor nem se curar dela. Ele simplesmente deixa de girar em torno dela. A vontade, ali, não é força — é soberania” — define Teixeira.
A Ontocentria, assim, desafia uma lógica terapêutica enraizada na cultura contemporânea: a de que é preciso voltar ao trauma, elaborá-lo, aceitá-lo, entendê-lo, superá-lo. Em vez disso, convida o sujeito a retirar dele o poder de nomear quem se é. Porque, como afirma o próprio autor:
“O sujeito não precisa ser o que a dor o ensinou a ser. Ele pode ser aquilo que escolhe sustentar — quando para de obedecer à forma simbólica que o aprisionava.”
Talvez esse seja o movimento mais radical da clínica contemporânea: não escavar mais a ferida, mas desativar o sistema simbólico que a mantém viva. Não se trata de vencer o trauma, mas de não precisar mais dele para existir.
Você pode saber mais através do Instagram aqui
Artigo em destaque 84991326674 [email protected]